Os Cinco Diabos (2022)
- Tati Regis
- 29 de mai. de 2023
- 3 min de leitura
Quem não deseja viver uma fuga da realidade de vez em quando? Quem não deseja um pouco de magia e de fantasia na vida? Viajar no tempo…presenciar decisões passadas que afetaram o futuro e até mudar algo no presente? Fugir, sonhar, fantasiar. É como diz aquele famoso ditado: “Sonhar ainda é de graça”, só que aqui, em Os Cinco Diabos, tem um custo.
É basicamente nesse meio que o filme Os Cinco Diabos se constrói, uma narrativa que combina muito bem o realismo com o mágico para abordar romance, responsabilidade parental, descobertas e temas espinhosos como racismo, homofobia e bullying.
Dirigido por Léa Mysius, "Os Cinco Diabos" praticamente gira em torno de três personagens femininas, da relação e da forte ligação entre elas. O filme me envolveu logo de cara com a primeira cena que é bem dramática mostrando um incêndio no clube de ginástica da cidade que dá nome ao filme e algumas personagens chorando olhando impotentes ele queimar enquanto Joanne Soler (Adèle Exarchopoulos), se vira pra gente, também chorando e como se procurasse alguém e aí corta para Vicky que acorda assustada de algum pesadelo. Vicky (Sally Dramé) tem 8 anos e é filha de Joane.
Desde então fica a sensação na gente que algo está estranho ou que aquele pesadelo parecia ser muito real. De início a gente não entende e o filme vai mesclando esse passado com o presente para contar histórias sobre os personagens sem se preocupar em explicar muitas coisas. O recurso que o roteiro se utiliza vem da criança, uma garota solitária que vive com os pais, Joanne e Jimmy (Moustapha Mbengue) numa província francesa cercada por um enorme lago e bosques, lugar perfeito para uma trama que carrega ares de gótico, bruxaria e realismo. Ela, a menina, além de ter uma forte ligação com a mãe, tem um dom: um super olfato e passa a criar meios de revisitar coisas, lugares ou pessoas através disso. Ela colhe tudo e guarda em pequenos potes tudo que possa lembrar o que ela quiser a partir dos cheiros. Vicky também é peça chave nessa trama que além de enfrentar o racismo e o bullying na escola, vive com os pais que não estão muito bem no casamento.
A trama tem sua virada quando aparece a terceira peça chave dessa história, Julia (Swala Emati), tia de Vicky, irmã de Jimmy e cunhada de Joanne. Ela chega na cidade após ser libertada da prisão e é acolhida na casa do irmão, o que a princípio deixa Joanne muito desconfortável e Vicky desconfiada. Ela parece sentir que aquele é o momento crucial na sua vida e tudo que envolve seus pais e a cidade. Vicky, como de costume, guarda os cheiros da tia num potinho e descobre de forma acidental que cheirando seu pote, ganha o poder de voltar ao passado e é assim que segredos, há muito guardados e esquecidos, são descobertos pela garota, passando a entender não só o seu lugar no mundo, mas quem são seus pais antes dela nascer, sua tia e como esse passado afetou diretamente o presente.
Os momentos de viagem no tempo acrescentam mais drama e camadas a essa história, digamos, estranha. Aliás, estranho é um bom nome para definir esse filme, já que ele não está nem um pouco preocupado em se limitar a gêneros. Numa dessas viagens de Vicky, um romance entre Joane e Julia é revelado e ela passa a ser uma espécie de assombração na vida das duas sempre que acontece seu deslocamento. O filme deixa a gente com a sensação de que existem mais perguntas a serem feitas do que respostas a serem dadas e particularmente acho isso sensacional aqui. Tudo se desenrola de uma forma tão fluida e até discreta que quando acaba o sentimento é de arrebatamento.
Por hora, vou ficando por aqui, pois este é um filme que eu poderia passar horas e horas falando sobre ele e do quanto ele é sensacional, mesmo provocando confusões e sentimentos mistos na gente. Nem sempre tudo precisa ser mastigado, explicado e tá tudo bem. Como disse lá em cima, essa viagem na fantasia e na magia as vezes se faz necessária e é gosto demais assistir a este filme pela perspectiva dessa garotinha que carrega em si alma de bruxa. Só assistam!

LES CINQ DIABLES (2022)
Os Cinco Diabos
IMDb | Rotten Tomatoes | Letterboxd | Filmow
Direção Léa Mysius
Duração 96 min
Gênero(s) Drama, Thriller
Elenco Adèle Exarchopoulos, Sally Dramé, Swala Emati, Moustapha Mbengue, Daphné Patakia, Patrick Bouchitey +
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