O cinema indonésio já nos entregou grandes produções muito bem construídas, uma delas The Raid, lançada em 2011, que foi um sucesso do gênero de ação, e em 2019 o diretor e roteirista Joko Anwar trouxe com seu Impetigore um filme de terror sólido sobre maldições, diferenças culturais urbanas e rurais, assim como o anseio pela maternidade versus maternidade narcisista e controladora. É sempre um prazer acompanhar produções fora do eixo EUA-Europa e vivenciar novas experiências culturais trazidas por diretores de diferentes países e continentes, mas principalmente observar como estes se utilizam de particularidades de seus meios para dialogar sobre questões presentes em todos os cantos do mundo.
No filme, conhecemos as azaradas Maya (Tara Barso) e sua divertida amiga Dini (Marissa Anita) e em poucos minutos percebemos que nenhuma das duas se sentem realizadas tanto na profissão quanto na vida. A sucessão de desgraças na vida de Maya culmina em um encontro quase mortal com um desconhecido, a situação de quase morte desencadeia uma mudança (não muito diferente do que elas já estavam acostumadas) da realidade empregatícia, mas, ao mesmo tempo faz uma luz no fim do túnel: a possibilidade de haver uma herança de seus desconhecidos pais. Apesar da desconfiança que fica evidente em ambas, a situação financeira e “amizade” faz com que ambas, viagem até uma pequena vila isolada afim de reivindicar a tão sonhada herança.
Entretanto o diretor Joko Anwar não está interessado em entregar saídas fáceis para as personagens ficando claro que os moradores não têm boas intenções com a antiga residente da vila e que talvez ter deixado a cidade para reivindicar a tal herança tenha sido um erro. Fazendo com que Maya e Dini tenham que lutar para sobreviver às crenças daquela população, ao perigo de uma verdade única que se encontra arraigada a superstições e uma suposta maldição iniciada por meio de um pacto com o Cramunhão que acomete somente as crianças e leva os moradores a cometer atrocidades contra os recém nascidos.
O filme utiliza de forma positiva a natureza em torno da vila, a névoa, a sensação de calor e umidade quando acompanhada da iluminação vermelha fica excepcionalmente linda dando um ar soturno e muito bem-vindo a produção. Em relação a casa que é o objeto central da trama poderia ter sido mais explorada principalmente pela estória ter inserido nela elementos sombrios que se correlacionam tanto com a história da vila e por consequência de seus moradores como a própria protagonista. A sonoplastia é condizente com o que se espera e funciona bem nos momentos em que é mais necessária como quando surgem os jump scares ou quando se aproxima cenas onde o gore é esperado e bem-vindo. Apesar de ter alguns clichês do gênero e de alguns efeitos especiais pontuais não tão convincentes, o filme se sustenta pelo suspense, algumas reviravoltas e ambientação.
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