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"I Blame Society" e o mito do protagonismo feminino

Sejam em nossos textos, listas ou até mesmo em nossos episódios do podcast, estamos sempre discutindo o papel feminino dentro do cinema de gênero. Os estereótipos, os clichês, a objetificação... e em diferentes níveis, todos esses assuntos são levantados ou discutidos em I Blame Society, longa de estreia da diretora e protagonista Gillian Wallace Horvat.


Filmado como um mocumentário/found footage, o filme gira em torno de uma cineasta frustrada pela indústria e pelas pessoas que a rodeiam, que decide retomar um projeto antigo para provar para si mesma e para o mundo do que ela é capaz. E nessa intensa jornada, acompanhamos a transformação de uma Gillian tímida e insegura para uma assassina em série determinada e sem remorso.


E se você está se perguntando como esse salto foi possível, a explicação se dá na ideia que gerou tanto o filme, quanto o projeto dentro do filme: o dia em que dois amigos de Gillian a elogiaram dizendo que ela seria uma ótima assassina. A partir de então, a diretora passou a listar as semelhanças entre um cineasta e um serial killer, como por exemplo: uma visão clara do início ao fim, improvisação frente a obstáculos, e a determinação de ir até o fim, mesmo com as dúvidas internas e o julgamento de outras pessoas.*



Mas apesar de parecer uma ideia um tanto quanto absurda, é facilmente comprada durante o desenrolar da narrativa, e muito disso se dá pela construção de nossa protagonista. Mesmo não sendo o clichê de personagem feminina forte e idealizada, é natural de se relacionar devido às suas imperfeições, oscilações e complexidade. Afinal, ninguém é 100% bom ou ruim o tempo todo.


Gillian (a personagem) é extremamente impulsiva e difícil de ser lida. Por diversas vezes nos questionamos sobre sua natureza, principalmente quando seu primeiro assassinato ocorre. Ela realmente causou aquilo sem saber/querer? Ela realmente tentou salvá-lo? Ela realmente se sentiu culpada por não ter conseguido? E o fato de não termos certeza das respostas e o que torna a personagem tão enigmática e interessante de assistir.


Suas experiências como mulher tanto na indústria, quanto na sociedade em que vivemos, são facilmente identificáveis e comuns a inúmeras mulheres - os encontros desastrosos, o parceiro que vive a subestimando, os empregadores impossíveis de agradar, e a eterna sensação de nunca se sentir realmente reconhecida apesar dos inúmeros esforços.



E justamente dentro desses acontecimentos, que transitamos entre as diversas discussões que o filme tenta abordar, dentre elas, o mito do protagonismo feminino. Se por um lado, notamos uma suposta preocupação crescente em protagonizar personagens femininas fortes, por outro, notamos apenas mais um estereótipo padrão impossível de se alcançar e que mais parece ter sido criado aos moldes de expectativas masculinas.


Confira também o texto do Momentum Saga sobre A PROTAGONISTA FEMININA FORTE®


Queremos mulheres reais que ultrapassem características unilaterais e unidimensionais. Queremos mulheres tomando o controle de suas narrativas e protagonizando suas próprias vidas. Por mais que Gillian não seja um ideal a ser seguido, ao menos podemos dizer que ela não é uma personagem feminina servindo de elemento de roteiro que orbita os personagens masculinos da trama. E só por isso, já é um filme que merece nossa atenção.


Portanto, se você está a procura de uma sátira sanguinolenta, fora do convencional e que não fique somente no superficial, I Blame Society é uma ótima pedida. Isso sem contar, é claro, do ótimo protagonismo e direção feminina, e do prato cheio para os fãs de true crime.


 

I Blame Society (2020)


Direção Gillian Wallace Horvat

Duração 1h24min

Gênero(s) Terror, Comédia, Crime

Elenco Gillian Wallace Horvat, Keith Poulson, Chase Williamson +

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