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  • Foto do escritorTati Regis

A Fantasia Política e Lisérgica de Rodson

Vocês já passaram pela experiência de não acreditar no que seus olhos viam enquanto assistia a alguma coisa? Pois, foi exatamente assim que me senti quando vi Rodson ou (Onde o Sol Não Tem Dó) pela primeira vez ano passado. Eu queria mais! Queria me sentir daquele mesmo jeito e fiquei deveras feliz quando soube que estaria na Edição 24 da Mostra de Cinema de Tiradentes.


Primeiro longa dirigido pelos Cleyton Xavier, Clara Chroma e Orlok Sombra, Rodson ultrapassa qualquer classificação a gênero ou subgênero que tentem lhe encaixar. É distópico, é catastrófico, apocalíptico, anarquista, comunista, repressor, lisérgico, fritado, dramático, metamorfo, aterrorizante e muito, muito, muito colorido.



Os avisos no início do filme dão o tom: "Esta é obra uma obra não recomendada para pessoas fotossensíveis". O outro: "Este filme foi autorizado pelo departamento de censura". São os anos pré-3.000 no Brasil e qualquer expressão artística é considerada subversiva. Rodson é um garoto extremamente criativo e vive com os pais que reprimem pesadamente esse seu talento. Ele cria um robô com pedaços de coisas que achou no lixo e o batiza de Caleb, seu alterego.


Frustrado com a repressão da sociedade e com tratamento que vem recebendo em casa, Rodson e Caleb partem numa aventura escaldante sob um sol sem dó de quase dois mil graus em busca de liberdade e de descobrir sua verdadeira essência. O cenário é de completo caos e degradação. O que importa agora é o consumo sem pensar nas consequências. Gostei da poluição visual dos outdoors cheios de ordens ao estilo They Live (John Carpenter, 1988). Pra falar a verdade, pensar não é muito bem visto nessa sociedade. A água virou item raro, as pessoas se hidratam com o chorume brilhante que escorre das montanhas de lixos coloridos espalhados pela rua. Devastador.



Em meio a tudo isso e enquanto somos jogados a um recorte frenético de imagens saídas de antigos games 8-bits formando texturas que as vezes parecem hologramas ou uma colagem digital mixada repleta de memes e RPGs, causando uma experiência estética única, Rodson consegue, enfim, viver suas metamorfoses nesse lugar onde programas de massa de conteúdo duvidoso e fundamentalista são transmitidos e assistidos pelos cheirados cidadãos de bem.


Ser limitado intelectualmente é o que importa nessa distopia. Ler, pensar e questionar torna você alvo da patrulha das ideias, da nova polícia sadomasoquista. Essa é uma obra que reflete de forma alucinada e alucinante uma crítica a regimes repressivos, consumistas e hipócritas. Me aterroriza demais saber que diversas coisas que vi em 74 minutos de tela estamos vivenciando e outras não estão muito longe de acontecer.


Preciso dizer aqui que Rodson ou (Onde o Sol Não Tem Dó) foi baseado numa zine de Cleyton Xavier e Urutau Maria Pinto, e ficará disponível online e de graça pelo site da Mostra Tiradentes até 30 de janeiro. Para ver mais produções caóticas cheias de amor desse pessoal que faz tudo na base do chá de fita, só acessar o canal Chorumex no Youtube. Recomendo. E continuemos de olho nessas novas produções de gênero vindas do Nordeste, temos muito a dizer e o que contar.


 

Rodson ou (Onde o Sol Não Tem Dó) (2020)


Direção Cleyton Xavier, Urutau Maria Pinto, Lyna Lurex

Duração 1h14min

Gênero(s) Ficção Científica

Elenco Orlok Sombra, S.brxxzkjxkzxkxkz, Nirá Link +


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