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  • Foto do escritorMyka Carvalho

Paletó de Madeira e Figurinistas Sem Nome: A Praga de José Mojica Marins

No dia 6 de Julho, desse ano de nosso senhor, estive na estreia de A Última Praga de José Mojica, curta-documental sobre a restauração do filme A Praga, (versão de 1980) restaurada por Eugenio Puppo, que foi exibido em sequência. O clima no ar era algo parecido com um velório, e não de maneira negativa: os presentes emanavam e recebiam a energia de Mujica. Não era algo apenas sobrenatural. Era a importância histórica de um homem que tanto fez pelo cinema nacional e que, infelizmente, faleceu antes de ver a restauração de A Praga concluída. Nele, Marina Silvia Gless e Juvenal Felipe Von Rhein são um casal que ao duvidarem do sobrenatural, têm suas vidas mudadas por um acontecimento envolvendo uma velha bruxa.


Não é novidade por aqui que meu foco é sempre o figurino das obras, e claro, com A Praga não foi (tão) diferente. No entanto, não há informações sobre quem foram as pessoas envolvidas no figurino ou mesmo se os próprios atores e diretor levavam peças pessoais, como muito acontecia no cinema brasileiro nas décadas de 60, 70 e 80. Saber quem são os responsáveis por idealizar as roupas de um filme é importante para entendermos a além-obra. Uma parte tão importante e não dita com tanta frequência em resenhas e análises de cinema. Apesar dessa lacuna faltante perdida nos arquivos e anos passados, é absurdamente admirável o que foi feito com poucos recursos para as roupas ali presentes.


No curta-documental já é possível relembrar o quanto José Mojica, o eterno Zé do Caixão (que assombrava minha infância com suas unhas mas acalenta minha vida adulta com suas obras) se dedicava ao figurino e caracterização: a longa capa, a cartola, a paleta de cores ‘trevosas’ e até mesmo a constante imagem atrelada ao ‘’paletó de madeira’’, termo popular para ‘caixão’. Ainda que ele não esteja mais por aqui, as roupas seguem tendo um papel importante em sua obra. As camisolas de Marina são o que primeiro me prendem o olhar. Muito características dos anos 70, elas aparecem bem cuidadas e mostram como a moda não muda magicamente ao final de uma década, já que o filme é de 1980. Além disso, seus vestidos com modelagens que lembram peças populares nos anos 50 são constantemente hipnotizantes na tela. Juvenal também traz em seus trajes golas maiores e mais pontudas do que as que seriam vistas mais tarde na década de 80. Calças com barra levemente maior que o restante da peça também são resquícios de uma década em que calças ‘’patas de elefante’’ eram tendência.


A Bruxa, personagem tão intrigante, interpretada pela excelente e expressiva Wanda Kosmo, veste roupas largas, que minha avó chamaria de ‘’roupa de bater’’, que são peças mais gastas, usadas pra ficar em casa ou fazer serviços que as desgastam ainda mais.Colares longos compõem a estética do imaginário popular do que uma bruxa, que vive isolada em sua propriedade rural, usa.


Existem poucas imagens, além do curta e do filme, que mostram detalhes desse figurino misterioso em sua idealização e tão competente no resultado final. Separei algumas que encontrei e recomendo que vejam tanto o curta, quanto o média.



O trailer do doc + filme você pode conferir aqui:

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