O horror se classifica, principalmente, por conseguir refletir as barbáries existentes na nossa realidade material, seja invocando o fantástico e suas reverberações ou transmitindo em um formato literal os maiores terrores que um ser humano pode viver e/ou presenciar. Essa aptidão do gênero se torna uma experiência ainda mais amedrontadora quando nos deparamos com histórias que se aproximam completamente com o nosso ambiente. Quando reconhecemos espaços, comportamentos, histórias e cenários, esse horror se torna mais próximo, palpável, crível. É pensando nessa forma de construir o medo e uma relação adjacente com a cultura latina, que separamos 5 livros de horror escritos por mulheres latino-americanas, mulheres essas que relatam histórias de terror que se assemelham com a nossa conjuntura e que conseguimos facilmente identificar –e morrer ainda mais de medo.
5 – Terra fresca da sua tumba – Giovanna Rivero – Bolívia
Em “Terra fresca da sua tumba” Giovanna Rivero cria histórias que pensam o terror que é se sentir não-pertencente a um lugar. A partir das necessidades e saudades dos indivíduos, a autora cria contos que transformam esses sentimentos em verdadeiros cenários trágicos. A sinopse do livro explicita que ele se desenrola imaginando “o ruído da terra estrangeira, o fantástico e o macabro emaranhados no cotidiano, a crueldade de que só a família é capaz”.
4 – Sacrifícios humanos – Maria Fernanda Ampuero – Equador
Maria Fernanda Ampuero sabe recriar o horror como ninguém. Nos contos desse livro, o monstro não está a espreita no armário, mas pode estar dentro da sua casa, na sua família, na sua roda de amigos, no seu trabalho. Segundo a sinopse do livro “as bestas são os próprios humanos que se põem a aterrorizar uns aos outros, evidenciando as desigualdades, o desprezo que mantemos por nós mesmos e a violência que instauramos como um ato cotidiano”.
3- As coisas que perdemos no fogo – Mariana Enriquez – Argentina
Os contos de Mariana Enriquez dão espaço para as criações surreais que podem existir dentro do horror. O livro se propõe a contar histórias de pessoas que se encontram invisíveis perante a sociedade e as desgraças que esse desprezo e abandono são capazes de acarretar. A sinopse do livro avisa: “é o cotidiano transformado em pesadelo”.
2 – Enterre seus mortos – Ana Paula Maia – Brasil
A escrita de Ana Paula Maia é sempre crua e inclemente. Suas histórias normalmente são construídas a partir de personagens afundados na lama, com empregos insalubres e histórias de vida que os colocaram nos piores caminhos e ambientes dentro da sociedade brasileira. Em “Enterre seus mortos”, acompanhamos Edgar Wilson, um típico trabalhador que apenas quer cumprir seus deveres e poder voltar pra casa. O trabalho de Edgar é remover corpos de animais mortos nas estradas, entretanto, tudo muda quando o corpo que ele encontra é de uma mulher. Diante de um cenário perturbador, a sinopse diz que o livro é “o resultado de uma inusitada mescla de romance filosófico e faroeste que revela o poderoso projeto literário de Maia”.
1 – Mandíbula – Mónica Ojeda – Equador
Com a premissa de que o horror pode vir de muitos lugares, incluindo daqueles que você mais confia, é que se desenvolve a história criada por Mónica Ojeda. O livro vai falar sobre uma adolescente que é sequestrada, mas com um adendo: a sequestradora é sua professora de literatura. Narrando os acontecimentos que levaram até esse fatídico evento, Ojeda não cria um ambiente de medo, mas nos faz olhar para todos aqueles temores que já existem em nós e que podem ser engatilhados a partir de míseros detalhes. Segundo a sinopse “Mónica Ojeda cria neste romance não apenas personagens desconcertantes, mas também uma ambientação perturbadora para uma narrativa de nuances e contornos tênues entre o horror, o desejo e a perversidade”.
Correção: também sou leitor da Ana Paula Maia (tomei meus remédios agora a pouco). Inclusive li esse livraço dela que você indicou.
Adorei o texto. Só conhecia uma autora (Mariana Enriquez). Vou correr atrás das outras. Obrigado.