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GRAVE TORTURE (2024)

  • Foto do escritor: Raffael Petter
    Raffael Petter
  • 21 de mai.
  • 3 min de leitura

O Alimento e o Refrigério da Alma é Crer no Paraíso e no Inferno


Numa padaria de bairro, da Tailândia, uma família se prepara para abrir o estabelecimento mais uma vez. Apesar das dificuldades recentes, o surgimento de uma concorrente americana do outro lado da rua — o imperialismo americano se infiltrando na tradição do país—, continuam a produzir os seus pães caseiros com formatos de animais. Afinal era tudo feito com muito suor, carinho e cara própria. 


Enquanto os pais preparam os pães, os filhos, os organizam nos balcões, nas vitrines. O lugar andava as moscas naquele dia, mas, um cliente de aparência sinistra surge. Encara Adil, a criança o encara de volta. O que procurava? O estranho tosse seco, o menino corre a buscar um copo d’água. O homem de fones de ouvido bebe todo o líquido; após, diz algumas frases desconexas, entrega à criança uma fita cassete misteriosa, sai pela porta da frente como se nada tivesse acontecido. Nesse meio tempo, Sita, a irmã do garoto, percebe outro freguês vindo, havia entrado junto de um casal. Se aproxima dela, mira a caixa registradora. Sita o segura pelo punho, antevendo o roubo. Não, não ia roubar o suado dinheiro deles. Haviam sido assaltados, diz ele, olhando para o casal distraído avizinhado, precisavam desse dinheiro para irem embora.   A garota congela, deixa o bandido fugir com o dinheiro. Avisa aos pais, vão atrás dele. Sita e Adil, assistem a tudo do lado de dentro. Veem os pais discutindo com o larápio como num aquário invertido. O inesperado e trágico acontece. 

Grave Torture
Grave Torture (2024)

Um tempo se passa, Adil e Sita são adultos agora. O primeiro se torna tanatopraxista de gênio prático; cuida de preparar os corpos de velhos a serem sepultados. A segunda é enfermeira cuidadora da terceira idade; além de ser ateia, não acredita na existência de deus e afins. Nem na tal da cova da tortura, onde pessoas maléficas em vida, são atiradas, torturadas numa danação eterna por uma entidade. E para provar a inexistência desse tal suplício, decidem trabalhar num asilo juntos. Aguardando ansiosamente o falecimento daqueles velhos, quais na juventude, foram seres humanos execráveis. E verificar se serão realmente castigados ou não, deitando-se ao lado de cadáveres, dentro de seus túmulos, filmando a tudo. Tal obsessão faz, os irmãos, descobrirem haver mais coisas entre o céu, a terra—e por que não? — o inferno.


Assim como nos seus trabalhos anteriores, Grave Torture traz todas as características de uma obra do Joko Anwar:  famílias escondendo segredos antigos a afetar vida de outrem, conflitos de gerações— a ancestralidade versus o capitalismo acachapante —, o uso do folclore, de lendas locais–– numa espécie de resgate da tradição e cultura local––, mulheres protagonistas de suas vidas e histórias, tentando sobreviver a uma sociedade nada gentil, quase sempre sufocante.  Talvez, até o presente momento, esse seja o trabalho mais político de Anwar. O mais escancarado, pelo menos. Qual cutuca, expõe as chagas abertas da Tailandia, os efeitos nocivos do extremismo religioso, como esse funciona direta e indiretamente, numa sociedade, qual, muitas das vezes, o único alimento e o refrigério da alma é crer no paraíso e inferno.


A melhor forma de se fazer um filme desse tipo é quando, ela, a política, aparentemente, não se faz presente e faz ao mesmo tempo, quando se encontra entranhada nas personagens, nos seus desejos, onde moram, nas situações por elas vividas. Isto é, faz parte da narrativa, caminha junto, de forma espontânea. O diretor consegue fazê-lo em boa parte da película. Porém, descamba, lá pelo segundo ato, quando os atores soam como fantoches, cujo ventríloquo, lhes projeta um discurso exacerbadamente panfletário e caricatural.  Um tipo de soliloquio político frustrado ––porque se explica demais ao público––, numa declaração do Joko para com ele mesmo, não dele para com suas personagens, por conseguinte o telespectador. Ideias e conceitos pouco aprofundados quais remetem a um grupo de almas penadas, que vagam, sem saber para onde ir, sem saber o porquê, apenas vagam, e o pior de tudo, não assustam.  



Direção: Joko Anwar

Duração: 117min

Gênero: Terror

Elenco: Faradina Mufti, Reza Rahadian, Putri Ayudya, Arfian Arisandy, Slamet Rahardjo


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